Conteúdo de Interesse

Um blog dedicado à análise social e econômica, que discute desenvolvimento humano, justiça, comportamento social e meio ambiente a partir de uma perspectiva crítica. Aqui, artigos opinativos se misturam a reflexões de cunho técnico-científico, apoiadas em dados e referências teóricas, mas com um toque de informalidade. Nosso objetivo? Fomentar diálogos que desafiem o senso comum.

12 de ago. de 2025

Caridade: o pouco de quem tem muito não pode ser o tudo de quem foi, estruturalmente, privado do mínimo

Mirelle Cristina de Abreu Quintela

12 de agosto de 2025.

A caridade é, de fato, uma bênção — essência que se manifesta na prática de um ser verdadeiramente humano e, não apenas, mas também, genuinamente cristão. É mandamento de amor, gesto de afeto e empatia, capaz de romper as cadeias injustas e desatar as cordas do jugo.

Contudo, nada há de humano, cristão ou amoroso em conceber e aceitar como natural que qualquer parte da humanidade deva viver refém da caridade, contentando-se com ela como único meio de vida ou alternativa de subsistência.

Não se trata de nobreza de espírito, mas de justiça e honestidade humana e intelectual. Não se trata de doar o que é meu, mas de não me apropriar do que é, também, um direito do outro.

Trata-se de alteridade. Trata-se da defesa e do estabelecimento de estruturas sociais equitativas e equânimes, capazes de garantir o direito humano à vida, à saúde, à educação, à liberdade de escolha, ao trabalho e ao fruto do próprio trabalho — enfim, o direito a uma vida digna, com qualidade e boas condições de viver. E viver não é apenas existir; muito menos subsistir.

Defender, glamourizar, enaltecer e enobrecer a caridade como modo e meio primordial de vida para o outro é, pura e simplesmente, perpetuar — e, mais que isso, agravar — a desigualdade estrutural da qual poucos se beneficiam e enriquecem. E isso não é caridade; isso não é ser caridoso. Isso é negar o verdadeiro significado da caridade; isso é ser puramente egóico; isso é pura distopia.

A caridade é virtude necessária, mas não substitui a justiça.

De fato e de direito, humano ou divino, a justiça antecede a caridade.