Um Blog dedicado à análise social e econômica, que discute desenvolvimento humano, justiça e comportamento social e meio ambiente, a partir de uma perspectiva crítica. Aqui, artigos opinativos se misturam a reflexões apoiadas em dados e referências teóricas, mas com um toque de informalidade. Nosso objetivo? Fomentar diálogos que desafiem o senso comum.

28 de mai. de 2025

Usando Inteligência Artificial para avaliar a possibilidade de existência de um cenário simétrico entre homem e mulher

Mirelle Cristina de Abreu Quintela

28 de maio de 2025.

O dia de ontem (27/05/2025), para mim, foi um gatilho.

Estava assistindo à transmissão ao vivo da Audiência Pública da Comissão de Infraestrutura do Senado Federal e fiquei fisicamente abalada com o tratamento dado à Marina Silva, no exercício de sua função, detentora de todo conhecimento técnico e reconhecimento internacional por suas competências. A Ministra do Meio Ambiente. Uma Mulher de virtudes e força. 

Para zero surpresa de minha parte, multiplicaram-se as argumentações justificando o desrespeito direcionado a ela. Para muitos, ela é um alvo que "merecia" ser atingido. Muitos afirmaram que "um homem seria tratado igual nessa situação". Outros questionaram: "Se fosse um homem tratado assim, não seria desrespeito também?". A lógica da toada era que "não se tratava de questão de gênero", que "não era misoginia", que "não era machismo". 

Diante da dissonância com a realidade e da negação dos fatos que se impunham, fiquei instigada a acionar a Inteligência Artificial para responder, analítica e probabilisticamente, sobre a tal equivalência de gênero em nossa sociedade. Afinal, considerando seu poder de simulação e precisão analítica, ela iria saber mais e melhor que nós sobre isso (contém ironia humana). 

Então, solicitei à máquina: 

1) Considere todos os dados a que se possa ter acesso nesse momento e a capacidade de processamento de seus algoritmos potenciais. Realize todas as simulações cabíveis para a questão: “Na sociedade atual, existe algum cenário analítico possível em que um homem receberia o mesmo tratamento interpessoal passível de ser dado a uma mulher?” 

2) Suponha que eu queira que exista um cenário possível. Construa esse cenário hipotético e estabeleça as condições necessárias e suficientes para que ele exista. 

Eis aqui os resultados calculados pela máquina. 

O mérito é dela, eu apenas perguntei.


Observação: A IA não sente indignação — mas calcula disparidades com precisão cirúrgica. Eis a ironia suprema: precisarmos de não-humanos para mostrar a desumanidade que nos habita.

17 de mai. de 2025

Quando a Política e o Serviço Público Perdem seu Sentido Original: A Degradação da Esfera Pública no Brasil

Mirelle Cristina de Abreu Quintela

30 de abril de 2025                           
                                                                                

A atuação de muitos ocupantes de cargos políticos no Brasil frequentemente se desvia das atribuições e obrigações funcionais previstas nos ordenamentos jurídicos e normas regimentais correspondentes, transformando-se em um cenário de desordem, oportunismo e irresponsabilidade. Esse fenômeno pode ser explicado por uma combinação de fatores estruturais, culturais e institucionais que perpetuam a impunidade e minam a responsabilização (accountability) pública.

Em primeiro lugar, a fragilidade dos mecanismos de fiscalização e punição permite que agentes políticos ajam com impunidade, mesmo quando violam normas éticas e legais. Muitas vezes, as instâncias de fiscalização e de controle — como Tribunais de Justiça, Tribunais de Contas, Ministérios Públicos e até o próprio Legislativo — estão sujeitas a influências políticas, corporativismo ou morosidade processual, o que dificulta a aplicação efetiva de sanções. Além disso, a legislação, por vezes, oferece brechas que permitem a manipulação de processos disciplinares, transformando punições em meras formalidades sem consequências reais.

Não se pode ignorar a cultura política arraigada em práticas clientelistas e na priorização de interesses particulares em detrimento do bem comum. Muitos políticos não veem seus cargos como uma função pública, mas como um meio de acumular poder, benefícios pessoais ou vantagens para seus grupos de apoio. Essa distorção é reforçada por um sistema eleitoral e partidário que, em muitos casos, premia a lealdade ao grupo em vez da competência e da integridade.

A desaprovação pública, embora exista, nem sempre se traduz em consequências concretas. A população, muitas vezes desinformada ou desmobilizada, não consegue exercer pressão suficiente para mudar esse quadro. Além disso, a polarização política e a manipulação midiática frequentemente desviam o foco das reais irregularidades, transformando escândalos em espetáculos que se esgotam sem responsabilização efetiva.

É assim que a falta de transparência, o acesso limitado a informações detalhadas sobre a atuação dos agentes públicos e as notícias falsas dificultam e mascaram o controle social. Nesse contexto, sem um real fortalecimento institucional e sem uma conscientização humana que priorize a verdade, a ética, a eficiência e a punição rigorosa dos infratores, o cenário continua marcado por arroubos autoritários, desvios de conduta e a perpetuação do caos como estratégia política.

No bojo dessa realidade, a degradação do cenário político não se limita à ineficiência e à impunidade. Essa degradação é agravada pelo surgimento e pela consolidação de aventureiros políticos, cujos comportamentos absurdos e antiéticos são não apenas tolerados, mas celebrados como símbolos de "luta" ou "revolução", sendo utilizados como atributos valorosos e de comunicação política estratégica.

Esses personagens, que personificam o pior da índole humana — o oportunismo, a demagogia, a agressividade e o desprezo pelas instituições —, contrastam radicalmente com o discurso do suposto "homem de bem", mas paradoxalmente conquistam admiração e apoio popular. O resultado é a ascensão exponencial de figuras violentas e a completa inversão de valores. A pura contradição entre o discurso moralista e a adoração de figuras antiéticas.

Em parte, esse fenômeno é fruto de uma crise de representação política, na qual a descrença generalizada nas lideranças tradicionais abre espaço para políticos novatos (outsiders) que se vendem como "antissistema", mesmo quando reproduzem (ou intensificam) os mesmos vícios que dizem combater. A retórica inflamada, o culto à personalidade e a espetacularização da política criam uma dinâmica em que o desprezível se torna sinônimo de autenticidade, enquanto a seriedade e o equilíbrio são vistos como fraqueza ou "elitismo".

Além disso, a polarização extrema e a viralização de conteúdos nas redes sociais favorecem aqueles que dominam a arte do escândalo. Personagens que deveriam ser rejeitados e punidos por suas atitudes absurdas ou criminosas ganham notoriedade justamente porque chocam, geram engajamento e alimentam a dinâmica de engajamento digital (seguidores, curtidas e compartilhamentos). Nesse ambiente, a ética e o compromisso são substituídos por um teatro político degradante, e a racionalidade, pelo tribalismo ideológico. O que importa não é o caráter ou a competência, mas a capacidade de mobilizar ódios e paixões.

Cabe destacar ainda a manipulação do imaginário popular por meio de narrativas simplistas que transformam falhas morais em "coragem" e irresponsabilidade em "ousadia". Quando um político é flagrado mentindo, agredindo adversários ou defendendo absurdos, seus apoiadores não o veem como um delinquente, mas como um "herói" que "diz o que pensa" e "não tem medo de quebrar regras". Essa romantização da transgressão inverte valores básicos da diplomacia, das relações humanas e da convivência social, premiando justamente aqueles que mais a ameaçam.

O resultado é um cenário em que a mediocridade se torna virtude, o caos vira estratégia, e a figura pública mais execrável pode ser elevada à condição de ídolo. Enquanto a sociedade não resgatar a capacidade de distinguir entre o charlatão e o estadista, entre o demagogo e o líder ético, continuaremos a ver a política como um espetáculo de horrores — onde os piores instintos são recompensados, e o verdadeiro "homem de bem" é apenas um personagem retórico, cada vez mais raro e menos influente.

Para que se vislumbre um cenário de maior integridade na esfera pública, são urgentes reformas estruturais e legais, além de uma transformação cultural que valorize o serviço público e exija, de forma intransigente, o cumprimento das obrigações funcionais dos servidores públicos e dos agentes políticos no exercício de seus cargos são urgentes

Fazer cumprir o óbvio - o simples cumprimento das obrigações funcionais - demanda mais do que mecanismos de controle eficientes e reforma política: exige um amadurecimento coletivo, uma transformação cultural profunda que rejeite o culto à ignorância e valorize a ética genuína em detrimento de um teatro político vazio.

Essa mudança, por sua vez, só é possível através de uma revolução educacional desde a base, com um ensino fundamental verdadeiramente humanista e cívico.

A construção de uma sociedade mais íntegra passa, inevitavelmente, pela escola, pela educação básica e fundamental. Uma educação universal que forme cidadãos conscientes, capaz de ensinar:

  • Os fundamentos da vida em sociedade, incluindo direitos, deveres e o valor do bem comum;
  • O papel do Estado, seu funcionamento e a importância das instituições socialmente democráticas;
  • O papel do serviço público, mostrando que políticos e funcionários são servidores da população, não privilegiados. O serviço público é um meio para que o Estado cumpra seu papel constitucional.
  • Consciência cívica e cidadã, para que as novas gerações entendam que a política não é um espetáculo, mas o alicerce da nação.

A construção de uma sociedade mais íntegra exige ações simultâneas em três frentes: institucional, cultural e educacional. Somente através dessa abordagem integral é possível resgatar o verdadeiro significado da atividade política e garantir o cumprimento efetivo das obrigações funcionais por parte dos agentes públicos.

Sem isso, não é possível reconstruir os valores que sustentam uma sociedade justa e barrar a escalada de políticos que veem o poder como troféu, não como responsabilidade.


30 de mar. de 2025

Da Agressão ao Silêncio: Como as Universidades (Re)produzem a Violência Contra a Mulher

 Mirelle Cristina de Abreu Quintela

30 de março de 2025


Em um mundo que se autodenomina civilizado, onde o conhecimento científico e tecnológico alcançou patamares inimagináveis em séculos passados, e onde as universidades se apresentam como pilares da transformação social, motores do progresso e da inovação na vanguarda intelectual, é profundamente perturbador constatar que, no cerne dessas mesmas instituições, subsiste uma realidade medieval de violência, opressão e desumanização contra as mulheres. Essa dissonância entre o discurso público de excelência acadêmica e a prática cotidiana de misoginia institucionalizada não é apenas uma contradição: é um escândalo ético, um fracasso coletivo que deveria envergonhar toda a nossa sociedade. Este texto não é apenas uma denúncia; é um protesto contundente contra a hipocrisia estrutural que permite que, em pleno século XXI, mulheres sejam sistematicamente humilhadas, desacreditadas e violentadas nos mesmos espaços que deveriam representar o mais alto nível da racionalidade e da evolução humana e social.

Essa apatia coletiva, essa normalização da crueldade, não é apenas uma falha moral; é um sintoma de uma doença social que corrói as estruturas que deveriam nos proteger. E se há um lugar onde essa contradição deveria ser inadmissível, é no ambiente acadêmico, espaço que se presume ser iluminado pelo conhecimento, pela razão e pela ética. No entanto, como testemunham inúmeras professoras, pesquisadoras, técnicas administrativas, colaboradoras terceirizadas e alunas, a universidade — assim como tantos outros espaços — reproduz e amplifica a violência de gênero, muitas vezes sob o disfarce da "excelência intelectual" ou da "hierarquia institucional".

Quando ingressei como professora em uma universidade pública há mais de quinze anos, acreditava, com a ingenuidade dos que ainda confiam nas instituições, que estava adentrando um ambiente onde o mérito intelectual e a civilidade humana seriam as únicas moedas de valor. Naquele momento estava finalizando meu doutorado, um tempo que deveria ser de celebração e realização pessoal e profissional, quando me deparei com a primeira de muitas barreiras invisíveis: minha chefia imediata empenhou-se com notável diligência administrativa para obstaculizar minha viagem de defesa de tese, questionando administrativamente se havia "previsão legal" para tal deslocamento. Era o primeiro sinal claro de que, naquele espaço, minha condição de mulher me colocava sob suspeição sistemática — como se meu doutorado fosse um capricho pessoal e não uma conquista acadêmica legítima.

Diante daquela situação, escolhi não debater com a crueldade do argumento. Optei por uma estratégia de contorno: se não havia previsão para minha ausência como doutoranda, certamente existia para meu deslocamento como professora convidada por uma universidade federal de renome. Acabei transformando a tentativa de obstrução em reconhecimento formal de minha competência e valor intelectual — ironia das ironias, obtendo mais legitimidade institucional como visitante do que como membro efetiva do corpo docente. O que poderia parecer uma vitória pontual revelou-se, com os anos, apenas o primeiro capítulo de um padrão perverso: a universidade, como tantas outras instituições, constitui um território hostil para mulheres, particularmente para aquelas que ousam ocupar espaços, contestar hierarquias ou simplesmente exigir o respeito que seria automático para um homem em igual posição.

Essa experiência inaugural revelou-se profundamente emblemática: mostrou-me como a violência contra a mulher, muitas vezes, não se apresenta como agressão explícita, mas antes como um conjunto sofisticado de mecanismos institucionalizados de deslegitimação. Nossas competências, habilidades e palavra são postas sob suspeição permanente; nosso avanço profissional é obstaculizado por exigências burocráticas seletivas; nossa postura firme é definida como “agressividade”. E quando contornamos esses obstáculos, nossa vitória é tida como exceção que confirma a regra — nunca como evidência da regra perversa que precisa ser mudada. Desse modo, o próprio sistema se protege: transforma nossas vitórias em anomalias que justificam sua manutenção, enquanto nossas derrotas servem para confirmar seus pressupostos misóginos.

O que torna essa violência particularmente invisibilizada é sua natureza transversal e multifacetada. Ela não é praticada apenas por figuras de autoridade, mas permeia quase todas as relações hierárquicas, incluindo colegas de mesmo nível e até de níveis subordinados. Nesse sentido, quando um colega espalha calúnias sobre uma profissional séria — chamando sua firmeza de "autoritarismo", seu compromisso de “perseguição” ou sua competência de "arrogância" —, está usando a difamação como arma para neutralizá-la. E pior: quando outras mulheres compactuam com isso, seja por omissão ou participação ativa, estão reforçando a mesma estrutura que as oprime. É crucial entender que o assédio não obedece a hierarquias. Ele é democrático em sua crueldade.

Em quinze anos de carreira, em que tive a oportunidade de ocupar cargos de coordenação, chefia e representação, fui alvo de diversos espectros de violência de gênero: desde o assédio moral velado em reuniões, em que minhas contribuições eram sistematicamente ignoradas até serem repetidas por um homem e então celebradas, até a agressão quase física por parte de um colega professor que, muito nervoso, após uma reunião, direcionou a mim sua fúria. O episódio foi minimizado por colegas que me encontraram na saída da sala. Ouvi de alguns: “Você está nervosa”, “Nada aconteceu”, “Não foi nada”, “Não foi bem assim”, “Não fique tão emocionada”, "Foi só um susto", "Você está sensível demais", “Ele está sob muita pressão”. Pior que a agressão em si foi a reação daqueles que passaram por mim enquanto eu chorava assustada: encolher de ombros, como se fosse normal um profissional adulto perder o controle e quase atacar uma colega de trabalho. Essa normalização da violência é talvez o aspecto mais perverso do problema, pois transforma o absurdo em rotina, o escândalo em trivialidade. Na universidade, a violência está tão naturalizada que sua negação é instantânea. A mulher que ousa nomeá-la é taxada de emocionalmente instável, enquanto o agressor é poupado de qualquer questionamento.

A misoginia e o sexismo no ambiente acadêmico assumem formas diversas, uma mais danosa que a outra. A agressão verbal, por exemplo, é frequentemente disfarçada de "debate acalorado", como se o tom elevado e o palavreado agressivo fossem inerentes ao rigor intelectual, quando na verdade são apenas manifestações de machismo culturalmente aceitas. Quantas vezes presenciei colegas homens interrompendo mulheres com um "Deixa eu terminar!" agressivo, enquanto toleram pacientemente as divagações de outros homens? Quantas vezes vi ideias brilhantes de colegas mulheres serem recebidas com silêncio constrangedor, apenas para serem aplaudidas quando repetidas por um homem minutos depois? Esses pequenos afrontamentos, acumulados ao longo dos anos, constituem uma forma de violência psicológica tão danosa quanto o assédio explícito, pois corroem a autoestima profissional e a confiança intelectual das mulheres de forma quase imperceptível.

A violência emocional, por sua vez, opera através de mecanismos ainda mais sutis e perversos. Quando uma mulher assume posição de liderança, seu comportamento é imediatamente estereotipado e estigmatizado: se é firme, é "autoritária"; se é gentil, é "fraca"; se busca consenso, é "indecisa"; se toma decisões unilaterais, é "arrogante". Não há desempenho possível que escape à crítica misógina. Pior ainda é o fenômeno da sabotagem institucional produzido, também, por colegas mulheres. Quando uma mulher, ao invés de se solidarizar, reproduz esses padrões de opressão, não se trata de mera rivalidade ou comportamento de sobrevivência, isso, muitas vezes, é reflexo da internalização de um machismo que nos ensina a enxergar umas às outras como adversárias, nunca como semelhantes, nunca como aliadas. Muitas vezes, uma mulher reproduz a opressão como se a sobrevivência em um ambiente hostil exigisse que ela também se tornasse hostil.

Quantas vezes somos alvo de calúnia e difamação, que distorcem nossas ações e palavras para nos definirem como “ambiciosas”, “problemáticas” e “difíceis”? Quantas vezes vemos mulheres admiráveis em posição de poder serem sistematicamente boicotadas por membros de sua própria equipe e outros colegas de trabalho que jamais teriam tal comportamento com um chefe homem? Quantas vezes vemos uma mulher reagir diante de tantos absurdos e ser rotulada de "agressiva" ou "descontrolada" — um mecanismo perverso de inversão dos fatos, onde o opressor se faz de vítima e a vítima é punida por existir? Importa mais a reação da mulher do que o que causou a reação. Essa deturpação da realidade por parte do agressor é um sintoma evidente de covardia.

A postura de autovitimização é uma tentativa de desviar a atenção de suas ações e evitar a responsabilidade. Esse comportamento, frequente em agressores, demonstra uma incapacidade de enfrentar as consequências de seus atos de forma honesta e madura. Trata-se de uma estratégia que busca manipular a percepção alheia, criando um cenário favorável ao agressor. Mais uma forma de opressão nessa roda viva, nesse ciclo perverso.

A omissão institucional diante dessa realidade é criminosa. Universidades públicas, mantidas com recursos dos contribuintes, possuem estruturas burocráticas gigantescas para tratar de questões orçamentárias e administrativas. Contudo, quando se trata de proteger suas professoras, técnicas administrativas, colaboradoras e alunas do assédio institucional, a resposta costuma ser protocolar: Criação de comissões e diretorias de governança e integridade, produção de documentos muito bem redigidos, realização de seminários superficiais uma vez por ano no Dia da Mulher. No cotidiano, as mulheres são deixadas à própria sorte, à mercê de novas rodadas de violência. Na prática, o que ocorre é que os protocolos existem apenas no papel e nos discursos episódicos: denúncias se perdem em emaranhados burocráticos, e processos disciplinares, se instaurados, acabam sendo arquivados por "falta de provas", e os responsáveis seguem impunes, sendo, algumas vezes, promovidos para cargos mais altos. Em muitos casos, uma reclamação formal vira um documento contra a vítima, que passa a ser rotulada como "problemática" ou "criadora de caso". O Código de Ética do Servidor Público é objetivo: determina que é dever do servidor "tratar a todos com urbanidade, respeito e dignidade". Mas a mensagem institucional é clara e está na falsa dicotomia entre o discurso e a prática. A governança, nesse momento, torna-se um engodo e a integridade, um conceito abstrato, enquanto a violência segue concreta, crescente e impune.

O descrédito sistemático aos relatos femininos é uma estratégia de opressão tão eficaz quanto antiga. Quando uma mulher denuncia violência, seu testemunho é imediatamente questionado, e as provas são invalidadas: será que ela não está exagerando? Será que não houve um mal-entendido? Será que ela não provocou a situação? Essa desconfiança em relação à palavra feminina tem raízes históricas profundas, remontando às caças às bruxas e aos tribunais inquisitoriais, onde o testemunho de uma mulher valia menos que o testemunho de um homem. Séculos depois, na suposta era da informação e da razão, a dinâmica permanece essencialmente a mesma: a mulher que denuncia deve provar sua credibilidade, enquanto o homem acusado goza de presunção de inocência, quando não é transformado em vítima.

A hipocrisia social que sustenta essa estrutura é ainda mais revoltante quando contrastada com a retórica religiosa e espiritualizada, que prega o amor ao próximo e o respeito humano, tão cara à sociedade brasileira. Como pode uma nação que se declara majoritariamente religiosa, em suas várias crenças, e que ostenta em sua bandeira o lema "Ordem e Progresso", tolerar a barbárie e a toxicidade cotidiana contra metade de sua população? A espiritualidade, quando não se traduz em ação concreta, vira hipocrisia.

Como podem universidades que ostentam em seus estatutos e regimentos valores como "dignidade humana" e "igualdade" falharem tão grotescamente em proteger suas mulheres? A resposta é simples: porque nossa cordialidade é seletiva, nossa moralidade é conveniente, e nosso compromisso com os direitos humanos é, na prática, uma encenação midiática. A moral e a ética, quando não são praticadas, viram retórica.

Há pouco tempo, no Dia Internacional da Mulher, publiquei uma mensagem que explicitava essa contradição: "Agradeço pela lembrança e pela celebração do nosso dia: o Dia da Mulher. Mas eu trocaria todos os parabéns e felicitações por uma postura mais ativa e menos omissa de meus amigos e colegas diante de situações sexistas e misóginas, tanto nos pequenos momentos do cotidiano, quanto principalmente em nosso ambiente de trabalho. O que realmente precisamos é de alteridade, respeito e solidariedade de fato, traduzidos em ações concretas que promovam a igualdade e a justiça.". A eloquência do silêncio que se seguiu foi mais reveladora que qualquer ressonância. A ironia cruel: dias depois, eu mesma enfrentava nova rodada de desqualificações, desrespeito e agressões veladas no cumprimento de minhas obrigações funcionais. A lição estava dada: comemorações são toleradas, desde que não questionem a ordem estabelecida; homenagens são bem-vindas, contanto que não exijam mudanças reais.

Será que há uma saída nesse cenário violento?! Sinceramente, é difícil sabermos.

Pode até ser que haja uma solução para acabar com tanta opressão, mas ela teria que começar com a recusa individual a normalização da violência e a banalização da agressividade.

A saída para mudar esse cenário violento exige muito mais do que medidas cosméticas. Exige que as regras de conduta sejam cumpridas. Exige uma transformação radical na cultura institucional, como por exemplo:

1.    Implementação de formação continuada sobre assédio e violência de gênero, não como mero treinamento burocrático, mas como confronto real com privilégios e preconceitos, para todos os membros da comunidade acadêmica, desde a alta administração até os colaboradores terceirizados, com avaliações periódicas que realmente impactem na progressão funcional.

2.    Criação de canais de denúncia verdadeiramente independentes e seguros, talvez vinculados a órgãos externos para evitar conflitos de interesse, com garantias concretas de proteção às denunciantes contra possíveis retaliações.

3.    Estabelecimento de um regime rigoroso de accountability e compliance institucional, em que gestores que negligenciarem denúncias ou protegerem agressores sejam pessoalmente responsabilizados, inclusive com advertências e outras medidas cabíveis quando comprovada omissão deliberada.

4.    Adoção de políticas afirmativas que garantam paridade de gênero em todos os níveis decisórios, pois a sub-representação feminina nos espaços de poder é tanto causa quanto consequência da violência institucional.

5.    Realização de campanhas permanentes de conscientização que envolvam toda a comunidade acadêmica, desconstruindo a naturalização da agressividade e promovendo uma cultura de respeito e empatia.

Enquanto nossas universidades continuarem a tratar a violência contra a mulher como um "problema pessoal" e não como uma questão estrutural que demanda intervenção institucional vigorosa, estaremos falhando coletivamente como sociedade, estaremos sendo cúmplices e coniventes com esse ambiente cada vez mais tóxico. Nenhuma mulher deveria ter que escolher entre sua dignidade e sua carreira. Nenhuma mulher deveria ver seu trabalho desvalorizado por causa de seu gênero. Nenhuma mulher deveria ser levada às lágrimas em seu ambiente de trabalho. Nenhuma instituição que se pretenda ética pode se calar diante de tanta brutalidade.

O silêncio é cumplicidade. O silêncio é violento. A omissão é conivência. Já passou a hora de rompermos com esses comportamentos e condená-los com ações concretas e efetivas. A universidade que não protege suas mulheres não merece ser chamada de espaço do saber, pois o verdadeiro conhecimento não pode florescer onde a dignidade humana é pisoteada.

Mulheres não se tornam "fortes" por aguentarem humilhações; elas são alvos de um sistema que as obriga a escolher entre a resistência e a ruína. Mulheres não se tornam "resilientes" por suportarem humilhações; elas são as vítimas de um sistema que as pune por existirem e quererem ocupar espaços. Mulheres não são fracas por chorarem; elas são fortes por revelarem em suas lágrimas a indignação insuportável que sentem diante de tantas atrocidades sofridas e vivenciadas no ambiente de trabalho.

Sempre que entrar em um lugar, qualquer que seja, saiba onde se encontra a saída. Sair não é desistir. Sair é mostrar que já deu, é decidir por uma estratégia de contorno, é reformular o caminho, é traçar uma nova rota, é não se permitir ser refém da própria indignação. “Malhar em ferro frio” ou “dar murro em ponta de faca” são posturas que não combinam com a força e a inteligência de uma mulher consciente de si mesma.

Essa mulher forte, inteligente e consciente não desiste; ela persiste, muitas vezes saindo de onde, um dia, escolhei estar, para fazer a mudança necessária e ser instrumento de transformação e saída. Ser, também, instrumento de transformação e saída para outras pessoas, para outras mulheres, em outro lugar. Essa postura sempre lança luz sobre escuridões.

Eu costumo dizer que, às vezes, ficar é desistir, é se submeter ao que o outro pensa de você. Por isso, saiba, sempre, onde se encontra a saída.

Ou mudamos essa realidade, ou seremos cada vez mais responsáveis por sua perpetuação. Certo é que a escolha é individual, todos os dias, em cada atitude, em cada omissão, em cada silêncio que decidimos manter. O preço da indiferença e da hipocrisia já é alto demais.

Basta, não é?!

 

14 de mar. de 2025

Governança Institucional em Universidades Públicas Federais: Estratégias para Minimizar Conflitos Éticos e Promover Boas Práticas de Integridade em Defesa do Interesse Público, no Âmbito de Um Colegiado Superior

Mirelle Cristina de Abreu Quintela

 

A estrutura de governança de uma universidade pública federal é um elemento crucial para garantir a transparência, a ética, a eficiência e a justiça na gestão dos recursos públicos e na tomada de decisões que impactam toda a comunidade acadêmica. Ela deve ser pensada de forma a promover boas práticas de gestão, integridade e transparência, com o objetivo de minimizar conflitos éticos e garantir que as decisões de um Colegiado Superior sejam tomadas em prol do melhor interesse coletivo e da melhor gestão da Coisa Pública.

Os Colegiados Superiores são instâncias decisórias fundamentais nas universidades públicas, e focar neles reforça a relevância do tema para a governança e a integridade institucional. Para garantir seu bom funcionamento, é essencial adotar mecanismos e esforços pertinentes, como a independência dos conselheiros, a clareza nos processos decisórios e o fortalecimento de uma cultura institucional pautada pela ética e pela responsabilidade. Tais medidas não apenas preservam a credibilidade da instituição, mas também reforçam o compromisso de seus dirigentes com a sociedade, assegurando que os recursos públicos – humanos e financeiros – sejam utilizados de forma eficiente e alinhada aos princípios da administração pública. Dessa forma, contribuem para a promoção da justiça social e para o cumprimento da missão das universidades como agentes de transformação e desenvolvimento.

No contexto universitário, em que o reitor, autoridade máxima da instituição, acumula a função de presidente do Colegiado Superior e tem o poder de nomear parte significativa dos membros do colegiado – incluindo os pró-reitores e cargos equivalentes, que ocupam cadeiras por função –, são iminentes os questionamentos sobre isonomia, prudência e ética nas práticas de gestão e governança institucional. Esses questionamentos, relevantes e fundamentais para assegurar o interesse público e uma gestão mais eficiente da Coisa Pública, demandam uma análise cuidadosa e criteriosa, baseada em normativos existentes e em diretrizes de boas práticas de governança nacionais e internacionais. O objetivo dessa análise é identificar e recomendar ajustes que fortaleçam a integridade institucional e promovam a transparência nas decisões.

Um exemplo prático desse desafio ocorre quando o presidente do conselho adota uma postura mais ativa, defendendo ou rejeitando encaminhamentos específicos. Nesse cenário, surge o risco de influência indevida sobre os demais membros, o que pode comprometer a isonomia e a independência do colegiado – elementos essenciais para a legitimidade e integridade das decisões institucionais. Essa dinâmica, portanto, representa uma das principais implicações a serem consideradas no contexto da governança universitária.

O presidente, por ocupar uma posição de liderança e representar a autoridade máxima da universidade, exerce naturalmente uma influência significativa sobre os demais conselheiros. Quando ele se posiciona de forma assertiva – seja antes de uma discussão ampla e democrática, seja após o encerramento dos debates –, pode produzir um viés que inibe o debate plural e a livre manifestação de opiniões divergentes. Essa dinâmica contraria princípios básicos de gestão e governança, como a independência dos conselheiros e a equidade no processo decisório, recomendados por organizações como o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Tais implicações se estabelecem de forma fática, independentemente da probidade, idoneidade ou intenções democráticas do dirigente máximo da instituição.

A isonomia, entendida como a garantia de tratamento igualitário a todos os membros do conselho, pode ser comprometida quando o presidente recomenda explicitamente como os demais devem votar. Essa prática não apenas desequilibra o processo deliberativo, mas também pode ser interpretada como uma forma de indução ou até mesmo de coação, ainda que indireta. Nesse contexto, a prudência e o cuidado com os princípios éticos recomendam que o presidente atue como facilitador do debate, assegurando que todos os pontos de vista sejam considerados, sem direcionar ou influenciar o voto dos conselheiros. O Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC, por exemplo, enfatiza a importância da neutralidade e da imparcialidade na condução de reuniões colegiadas, bem como a promoção de condições que favoreçam essas qualidades. Tais práticas visam ao interesse maior da instituição e ao seu desenvolvimento íntegro e sustentável.

Outro ponto crítico na organização de um conselho é a recomendação de que o presidente seja o primeiro a votar e que os demais membros sigam sua orientação. A existência de uma previsão regimental nesse sentido, ou mesmo a adoção informal dessa prática, pode gerar um efeito de “arrastamento”, em que os conselheiros se sentem pressionados a alinhar seus votos ao do presidente – seja por respeito à sua autoridade, confiança em sua pessoa ou receio de repercussões negativas. Esse cenário torna-se ainda mais problemático quando o presidente também é o gestor máximo da instituição em questão e, portanto, tem interesse direto na aprovação de proposições apresentadas por sua própria equipe administrativa. Nesse caso, surge um claro conflito de interesses, que pode prejudicar o melhor interesse da instituição. Normativas internacionais, como as diretrizes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para governança pública, destacam a necessidade de evitar conflitos de interesse e de garantir que as decisões sejam tomadas com base em critérios objetivos e transparentes. Vale ressaltar que o intuito da OCDE é promover não apenas o desenvolvimento econômico, mas também o bem-estar social.

No contexto das boas práticas de governança institucional e gestão da coisa pública, utilizar o direito de fala para recomendar um voto após o término das argumentações pode ser interpretado como uma estratégia para influenciar indevidamente o processo decisório. Embora o presidente do conselho tenha o direito e o dever de se manifestar, sua fala deve ser equilibrada e neutra, especialmente diante de sua posição de poder. A manifestação, portanto, deve ser tempestivamente apropriada, ocorrendo no momento mais propício e menos suscetível à geração de conflitos éticos.

A prática de fazer recomendações de voto ao final do debate pode afetar negativamente a credibilidade e a eficácia do processo decisório, criando um ambiente de desconfiança, insatisfação e desconforto organizacional entre os conselheiros e junto à comunidade. Essa dinâmica compromete as boas práticas de governança institucional, que valorizam a transparência, a equidade e o respeito às diferentes perspectivas. No contexto de uma universidade pública federal, onde os recursos humanos e financeiros são provenientes do erário e a missão é servir à sociedade, a adoção de práticas inadequadas de governança pode ter consequências graves. Além de comprometer a qualidade das decisões, pode levar a escolhas que não refletem o interesse coletivo, mas sim os interesses de grupos específicos. Tais práticas contrariam os princípios constitucionais da administração pública, como a impessoalidade, a moralidade e a publicidade, além de violar diretrizes de órgãos de controle, como o Tribunal de Contas da União (TCU) e a Controladoria Geral da União (CGU).

Para minimizar esses riscos no Colegiado Superior, é essencial que o presidente do conselho atue com moderação e neutralidade, evitando recomendar votos ou se posicionar de forma assertiva antes de ouvir todos os membros ou após o término das discussões. A votação deve ser realizada de forma independente, sem pressões ou influências, e o presidente deve votar por último, garantindo que sua decisão não influencie indevidamente os demais. Além disso, é fundamental fortalecer a independência dos conselheiros, assegurando que os membros nomeados pelo reitor sejam vistos como defensores do interesse maior da universidade, e não como representantes de grupos específicos.

Em síntese, a governança de uma universidade pública federal deve pautar-se pela transparência, pela ética e pelo respeito às diferentes perspectivas, especialmente no âmbito de um Colegiado Superior. A adoção de boas práticas, alinhadas às normativas nacionais e internacionais, é essencial não apenas para preservar a integridade institucional, mas também para minimizar conflitos éticos e promover uma cultura de integridade. Tais medidas garantem que as decisões sejam tomadas em benefício de toda a comunidade acadêmica e da sociedade como um todo, fortalecendo a confiança no interesse público e no papel das universidades como pilares do desenvolvimento social.



O Dia da Mulher


 

Firmeza e Dureza: Uma Análise Crítica do Comportamento Humano e Social

 Mirelle Cristina de Abreu Quintela

 

Firmeza e Dureza, embora frequentemente confundidos, representam conceitos distintos que refletem profundamente no comportamento humano e no progresso social. Enquanto a firmeza é associada à solidez e à capacidade de adaptação, a dureza está ligada à rigidez e à fragilidade. Essa distinção é crucial para compreender como as lideranças e as estruturas sociais podem promover mudanças significativas ou, ao contrário, perpetuar estagnação e conflitos.

A firmeza, em seu sentido mais amplo, remete à ideia de estabilidade e solidez. Um material firme, como uma árvore bem enraizada ou uma estrutura de aço bem projetada, possui uma base profunda que lhe permite suportar pressões externas sem perder sua integridade. No entanto, essa solidez não implica rigidez absoluta. Pelo contrário, a firmeza permite uma certa flexibilidade, uma capacidade de adaptação às circunstâncias sem quebrar. Por exemplo, uma árvore firme balança com o vento, mas não se parte, pois suas raízes profundas e sua estrutura flexível dissipam a energia das rajadas. No âmbito humano, a firmeza pode ser associada a uma personalidade que mantém seus princípios e valores, mas que também é capaz de se adaptar a novas situações. Uma pessoa firme não é inflexível; ela sabe quando ceder e quando manter sua posição, pois sua base emocional e intelectual é sólida o suficiente para suportar mudanças sem colapsar. Essa capacidade de equilíbrio entre resistência e adaptação é o que diferencia a firmeza da mera rigidez.

Por outro lado, a dureza está mais relacionada à resistência à deformação. Um material duro, como o vidro ou certos tipos de cerâmica, é capaz de suportar impactos sem se deformar, mas essa rigidez pode ser sua própria fraqueza. Materiais duros tendem a ser mais frágeis, pois não possuem a capacidade de dissipar energia através da flexibilidade. Quando submetidos a uma pressão excessiva, eles se quebram, em vez de se dobrar. A dureza, portanto, é uma qualidade que pode ser tanto uma vantagem quanto uma desvantagem, dependendo do contexto. No comportamento humano, a dureza pode ser vista como uma rigidez excessiva, uma incapacidade de se adaptar ou de considerar outras perspectivas. Uma pessoa dura pode ser vista como forte, mas essa aparente força muitas vezes esconde uma fragilidade interna. A falta de flexibilidade pode levar ao isolamento ou ao colapso emocional quando as pressões externas se tornam insustentáveis. A dureza, nesse sentido, é uma qualidade que pode ser limitante, pois não permite a adaptação necessária para lidar com as complexidades da vida.

A comparação entre firmeza e dureza pode ser ainda mais clara ao analisar as propriedades físicas dos materiais. A firmeza está relacionada à tenacidade, que é a capacidade de um material absorver energia e deformar-se plasticamente antes de fraturar. Materiais tenazes, como o aço, são firmes porque possuem uma base sólida e são capazes de se deformar sem se quebrar. Já a dureza está relacionada à resistência ao risco ou à penetração, mas não necessariamente à capacidade de suportar impactos sem fraturar. Um material duro, como o diamante, pode ser extremamente resistente ao risco, mas também pode ser quebrado com um impacto direto e preciso. Essa analogia física ilustra bem a diferença entre os dois conceitos. Enquanto a firmeza combina solidez com flexibilidade, a dureza é mais associada à rigidez e à resistência superficial, mas com menor capacidade de adaptação.

No plano linguístico, a distinção entre firmeza e dureza também pode ser explorada através dos conceitos de significado e significante. O significante é a forma física da palavra (os sons ou letras que a compõem), enquanto o significado é o conceito ou ideia que a palavra representa. No caso de "firmeza" e "dureza", os significantes são distintos, mas os significados podem se sobrepor em certos contextos, o que pode levar a confusões. No entanto, ao analisar os significados mais profundos, fica claro que "firmeza" carrega uma conotação de equilíbrio e solidez interna, enquanto "dureza" está mais associada à resistência superficial e à rigidez. Essa distinção é crucial para compreender como esses termos são aplicados em diferentes contextos, seja na física, na psicologia ou na filosofia.

No ambiente de trabalho, especialmente no setor público, é comum que líderes que promovem mudanças e melhorias sejam erroneamente classificados como "duros". Essa confusão entre firmeza e dureza é frequentemente utilizada para estigmatizar aqueles que buscam otimizar processos e promover o bem-estar coletivo. Líderes firmes, que mantêm seus princípios e valores enquanto se adaptam às necessidades da equipe e da organização, são essenciais para o progresso. No entanto, a resistência à mudança, muitas vezes motivada por interesses escusos, conveniência, ignorância ou má fé, pode levar à difamação desses líderes, caracterizando-os como "duros" ou inflexíveis. A Economia Comportamental e o Desenvolvimento Humano e Social oferecem insights valiosos sobre essa dinâmica. A Economia Comportamental destaca como vieses cognitivos e interesses pessoais podem distorcer a percepção e a tomada de decisões. No contexto organizacional, isso pode levar à resistência à mudança e à estigmatização de líderes firmes. O Desenvolvimento Humano e Social, por sua vez, enfatiza a importância da flexibilidade e da adaptação para o crescimento individual e coletivo. Líderes que combinam firmeza com flexibilidade são mais capazes de promover mudanças positivas e sustentáveis.

A metáfora de uma árvore com raízes firmes e galhos flexíveis versus a dureza do vidro ilustra claramente a diferença entre firmeza e dureza. A árvore, com suas raízes profundas e folhagem flexível, resiste aos ventos mais fortes sem se quebrar. O vidro, embora duro, é frágil e pode se partir com um único impacto. Essa metáfora pode ser aplicada ao comportamento humano e social: indivíduos e organizações que cultivam uma base sólida e são capazes de se adaptar são mais resilientes e propensos ao sucesso a longo prazo. Dessa forma, a firmeza e a dureza são qualidades que, embora possam parecer semelhantes à primeira vista, possuem diferenças fundamentais para a caracterização humana e social. A firmeza está ligada a uma base sólida e profunda, que permite flexibilidade e adaptação, enquanto a dureza está associada à rigidez e à resistência superficial, mas com maior propensão à quebra. Essa distinção é crucial para compreender como as lideranças e as estruturas sociais podem promover mudanças significativas ou, ao contrário, perpetuar estagnação e conflitos. A compreensão e a aplicação corretas desses conceitos é fundamental para a viabilização de uma sociedade mais equilibrada, resiliente e progressista.

 



19 de set. de 2011

E, no país da Copa de 2014


No país de gastos públicos vultosos com a Copa de 2014, a seca castiga.
A falta de chuva não é culpa do governo. Mas, mais esforços por parte deste, bem que poderiam ser efetivados para que as consequências da seca fossem, ao menos, amenizadas.
Como disse o rapaz, no vídeo, o número de caminhões-pipa não é suficiente. Este problema, por exemplo, com dinheiro o governo poderia resolver.


"Seca atinge vários municípios do Vale do Jequitinhonha (MG): numa comunidade rural, os moradores dividem com os animais a água suja do único açude que não secou. Plantações estão sem irrigação e pode acabar faltando comida na região."


Fonte: Jornal Nacional (Disponível: <http://g1.globo.com/videos/jornal-nacional/t/edicoes/v/seca-atinge-varios-municipios-do-vale-do-jequitinhonha-mg/1635491/>, em 19/09/2011)

GDF recolhe bicicletas doadas: ato foi simbólico

Nós somos o país do simbólico: entrega simbólica; inauguração simbólica; legislação simbólica; ... e por aí vai...
 "Governo do DF recolhe bicicletas doadas a estudantes em programa social: Bicicletas foram entregues no dia 26 de agosto durante solenidade. GDF diz que falta treinamento para os alunos; MEC não se pronunciou."
 
Fonte: G1 (Disponível em <http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2011/09/gdf-recolhe-bicicletas-doadas-estudantes-em-programa-social.html>, em 19/09/2011).

13 de set. de 2011

Greve na educação estadual de Minas e as argumentações do governo

Estou assistindo a TV Assembléia, de Minas  Gerais. Estão discutindo a respeito da greve dos servidores da educação do estado de Minas.

Particularmente, greve não faz muito meu estilo. Mas, sinceramente, me "intriga" a forma como as pessoas, principalmente os políticos e gestores públicos, comparam valores gastos ao longo do tempo de forma irresponsável e ignorante.
Dizer que determinados gastos (nominais) foram aumentados em quase o dobro sem levar em consideração a corrosão causada pela inflação no poder de compra de cada real é ignorância (desconhecimento) ou estratégia?

Na esperança de que seja ignorância (desconhecimento), estes deveriam se cercar de acessores mais capacitados e compentente, ou mesmo se capacitarem para tal. Mas, para se ter e ser pessoa "capacitadas e competente" é preciso de funcionários, principalmente na área da educação, bem remunerados e incentivados a ensinarem.

Se bem que, ao reividicarem aumentos em seus próprios salários, políticos e gestores públicos sabem muito bem o que é inflação. Sabem que R$1,00 em valores de 2006 não equivale a R$1,00 em valores de 2010.
Então, esta comparação seria estratégia?

Outro ponto muito "intrigante" é resumirem as reividicações e os problemas à questão salarial. Antes o problema da educação (e de outras áreas de ação do Estado) fosse apenas salarial!

Pra não me alongar e nem me "intrigar" ainda mais, fico por aqui ...